quarta-feira, 5 de junho de 2013

Joaquim Barbosa


Como o menino do interior de minas gerais se alçou à presidência da instância máxima do judiciário brasileiro, tornando-se um verdadeiro paladino da ética nas instituições públicas de nosso País
A imprensa em geral vem caracterizando o julgamento do mensalão como um marco. Marco na vida política Brasileira, cujo um dos principais atributos do ponto de vista legal sempre foi, infelizmente, a impunidade, principalmente daqueles que lesavam o erário público de dentro do próprio sistema. Seja um funcionário protegido pela pouca visibilidade
de sua repartição, ou algum importante membro de alguma das casas responsáveis por um dos três poderes, a população do nosso País há muito tempo se acostumara com notícias que mostram como estas pessoas gozam dos frutos de suas atividades ilegais. A impressão generalizada é que pela primeira vez os departamentos do Estado responsáveis pela fiscalização e punição de irregularidades tiveram a “audácia” de confrontar os poderosos, expondo e desmascarando suas perfídias. Como a História mesmo pode mostrar, em qualquer momento em que há uma ruptura, por trás desta existe sempre uma pessoa cuja personalidade ímpar ampare em si mesma a coragem e capacidade para que esta se realize. No nosso caso, este indivíduo chama-se Joaquim Barbosa.


Joaquim Benedito Barbosa Gomes nasceu em Paracatu, cidade de Minas Gerais, com pouco mais de 84 mil habitantes, segundo censo de 2010. É tombada pelo patrimônio histórico e possui vários quilombos de grande importância histórico-antropológica. Numa família de oito irmãos onde era o primogênito, o trabalho começou cedo. Sua mãe era dona de casa e seu pai pedreiro, posteriormente dono de uma olaria, onde o jovem Joaquim já aos 10 anos trabalhava. Mesmo assim, o estudo nunca foi negligenciado, pois o desejo de conhecimento se fez desde cedo presente, em especial o estudo de línguas estrangeiras.

Obviamente Paracatu, com todas suas riquezas, não disponibilizava os recursos necessários ao desenvolvimento intelectual e acadêmico que buscava o futuro Presidente da instância mais elevada de nosso sistema judicial. Em vista disso, aos 16 anos, Joaquim Barbosa ruma à capital Brasília, onde se manteve trabalhando como faxineiro de TRE,
enquanto batalhava para terminar o segundo grau.


Neste instante, um encontro fortuito ampliou significativamente suas chances de transpor as muitas dificuldades à sua frente. Certo dia, enquanto limpava o banheiro do TRE, entoava uma canção em inglês, língua que já dominava. Ao entrar no banheiro um diretor do tribunal, este se espanta com o fato de que um mero faxineiro tivesse tamanha fluência numa língua estrangeira. Decide então ajudá-lo e arrumalhe um emprego na gráfica do Correio Brasiliense. O começo de sua ascensão social o aproximaria também de uma doença chamada discriminação racial. Teria que provar em dobro suas capacidades para ser aceito.

Para ajudar a família lá em Minas, arruma um segundo emprego, no Jornal de Brasília. Mais adiante deixa os dois e assume cargo na gráfica do Senado, onde trabalhava das 23 às 6 da manhã indo direto para a aula na Universidade de Brasília, onde era o único aluno negro no curso de direito. Após se graduar, vai à Europa como oficial de chancelaria do Itamaraty, o que lhe rende impressões preciosas sobre a questão étnico-racial. Nas palavras do próprio ministro: - “A percepção de ser minoria entre as elites ficou ainda mais nítida fora do país. O sentimento de isolamento e solidão é muito forte num ambiente branco como o da Europa”.

Voltando ao Brasil assume o posto de advogado do Serpro, onde fica até 1984. Presta então concurso para procurador da República e é aprovado. Licencia-se do cargo e vai estudar na França na renomada Universidade de Paris-II, onde conclui mestrado e doutorado. Voltando ao Brasil, reassume o cargo de procurador e também através de concurso torna-se professor da universidade do Rio de Janeiro.

Já em 2003, é indicado pelo então presidente Lula ao STF. Rapidamente sua notoriedade aumenta, pois ataca visceralmente os entraves que sempre impediram a condenação dos poderosos neste País. Em mais de um episódio protagoniza discussões quentes no STF com outros ministros, como no caso do ministro Gilmar Mendes, onde questiona o
problema do foro privilegiado; e durante o julgamento do mensalão discorda veementemente das posições do ministro Ricardo Lewandowski. Nesses embates, a sociedade brasileira começou a identificar uma retidão ética incomum nas autoridades de nosso País. Entre as prioridades do ministro, ele já destacou perante à mídia Brasileira, estão o combate à morosidade do sistema judicial Brasileiro, além de fazer com que ela atenda aos ocupantes da base da pirâmide social da mesma forma com que atende aqueles que se equilibram no topo desta. Em novembro de 2012 assume a presidência do STF, e no discurso de posse reafirma seus intentos. Tudo isto torna Joaquim Barbosa uma figura na qual o povo brasileiro começa a confiar, já que em nosso país os homens públicos gozam de credibilidade quase nula. Retomar a marcha da República Brasileira rumo à moralidade e a transparência é um desafio quase hercúleo. Tamanho desafio necessita um cavaleiro com coragem e conhecimento fora do comum. Os moinhos de vento de nosso Brasil há muito giram num sentido que privilegia apenas alguns poucos, e Dom Quixote continua adormecido em seus míticos devaneios. 
 
Por: Eduardo Bartz

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